A balança que pendeu para os dois lados

Isabella Luiza
3 min readMay 23, 2019

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Logosofia

Numa noite sob a lua cheia, um casal tomava uma cerveja. Bohemia. Era Bohemia que eles tomavam. O assunto que ali seria discutido — inicialmente — era o divórcio. Casados há dois anos, juntos há sete, estavam de acordo com a decisão.

Foi no meio de muita coisa que tudo aconteceu. Ela estava terminando a sua segunda faculdade, tinha sua carreira pré estabelecida e isso já bastava. Ele tinha a música e ela. Além do casamento e do sonho de ter um filho (o que ela não estava de acordo), nada mais o atormentava. O problema é que ela tinha uma inquietude interna. E ele uma inquietude externa. Falava, falava. E ela só ouvia, ouvia. Seus sonhos e princípios certamente eram iguais. Mas as atitudes… Elas eram bem diferentes.

— Eu pensei muito sobre os nossos signos ultimamente. Aquele curso lá, ele está me enlouquecendo. É bem mais profundo e quântico do que eu imaginava. — dizia a moça.

Ele era canceriano. Ela era ariana. Esse tema sempre os uniu e os puniu. Era preciso ter discernimento para lidarem com suas diferença. E agora, enfim, tudo por água abaixo.

— É. Se nós dois não fossemos tão opositores assim, talvez desse certo. Os opostos deixaram de se atrair. — sorriu ele. Nossas singularidades não se equivaleram. Mas em qual estágio do curso você está?

Ela contou mais sobre o que estava aprendendo, pediram mais uma cerveja, bateram o martelo e combinaram uma data com seus respectivos advogados.

No caminho para casa, ela ficou pensando no que ele havia dito. “Se nós dois não fossemos, se nós dois não fossemos, se nós dois não fossemos…”
No caminho para casa, ele ficou pensando no que havia dito. “Se nós dois não fossemos, se nós dois não fossemos, se nós dois não fossemos…”
Então ambos pensaram, ali, juntos, naqueles instante em carros diferentes:
“E se fossemos? Como seria?”

E então, escreveram a seguinte carta:

De: Áries
Para: Câncer

Se nós dois fossemos sonhadores,
Quem seguraria nossos pés no chão?
Quem guardaria o dinheiro do ap na poupança?
Se nós dois guardássemos rancor,
Quem pediria desculpas?
Quem levaria o café da manhã na cama?
Se nós dois fossemos viajantes,
Quem permaneceria na Terra?
Quem cuidaria do nosso gato?
Se nós dois fossemos tímidos,
Quem falaria por nós?
Ficaríamos sem pizza no sábado à noite?
Se nós dois fossemos água,
Quem te esquentaria no inverno?
Quem queimaria o chuveiro com os banhos quentes?
Se nós dois fossemos românticos,
Quem escreveria as cartas?
Quantos presentes repetidos teríamos?

De: Câncer
Para: Áries

Se nós dois fossemos impulsivos,
Quem teria paciência?
Quem engravidaria primeiro?
Se nós dois fossemos pacíficos,
Quem xingaria o atendimento da TV à cabo?
Não existiria o sexo pós briga?
Se nós dois fossemos violentos,
Quem iria dirigir?
Quem quebraria a casa primeiro?
Se nós dois fossemos espontâneos,
Quem guardaria o lugar na mesa da festa da família?
Quem pensaria antes de falar?
Se nós dois fossemos fogo,
Quem apagaria as chamas?
Quem gelaria a cerveja?
Se nós dois fossemos iguais,
Quem seria quem?
E o quê?

E foi assim que, sentados na mesma mesa de bar, tomando a mesma Bohemia, no mesmo fim de semana, chegaram a conclusão de que se fossem os mesmos, compatíveis e equivalentes, não seriam. Nada, nunca, foi tão compatível como a incompatibilidade deles. E foi assim que desbravaram os padrões astrológicos, através de pistas do coração. Relembraram de quem são, dos seus papéis e desafios, e reataram.

— Wow. Eu nunca imaginei que a astrologia salvaria a gente dessa forma.

E salvou.

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